Há muito tempo ouço adultos dizerem que gostariam de poder aprender como as crianças, ou seja, apenas falando e sem se preocupar com nenhum tipo de regras. Neste artigo, gostaria de compartilhar as minhas observações sobre três pontos relacionados a esse assunto:
1) O que significa exatamente “aprender falando“?
2) É possível ajustar a expectativa em relação ao ritmo de aprendizado?
3) Por que treinar as quatro habilidades (hören, schreiben, lesen, sprechen) se seu objetivo é apenas conversar?
Aprender falando
Para “aprender falando” é preciso contar com o uso de gestos, palavras (ou frases) em línguas que possam ser usadas como ponte e uma boa dose de boa vontade daqueles com quem se fala. O ritmo desse processo de aprendizado irá depender de vários fatores, entre eles o comprometimento do aluno ou da aluna ao estudar uma nova língua e o grau de exposição à língua que se está aprendendo.
É importante lembrar que a fala, ou seja, a produção de linguagem, só é possível após exposição ao conteúdo da linguagem. É preciso, então, ouvir (quanto mais melhor) antes de falar. Para as crianças, aprender falando funciona mais ou menos assim: após um certo período de tempo ouvindo, repetindo e interpretando para a sua realidade o que significa o conjunto de sons que ela ouve, as crianças têm, então, capacidade de falar. Assim, é importante observar que antes de falar a criança precisa estar exposta à língua. Da mesma forma, nós adultos, para termos conteúdo suficiente para (re)produzir e conversar, precisamos nos dedicar à imersão.
Ajustando expectativas em relação ao ritmo de aprendizado
Muitos alunos e alunas se ressentem por não serem mais crianças, pois gostariam de aprender tão rápido quanto elas. De forma geral, também entre as crianças há uma característica individual que irá influenciar se a criança irá começar a se expressar rápido ou não. No entanto, o que acho muito válido neste caso é pensar na quantidade e na qualidade da imersão em que a criança está exposta. Crianças que mudam para o exterior, por exemplo, e passam a ouvir inglês ou alemão por quatro a oito horas por dia, cinco dias por semana, após um determinado período serão capazes de reproduzir o que ouvem e se comunicar. Observe a quantidade (20 a 40 horas por semana) e a qualidade (ambiente escolar) da imersão. Mesmo assim, ao começar a falar, a criança irá apresentar uma fala e um vocabulário que condizem com a idade dela e cometerá erros, claro, pois está aprendendo.
A maior vantagem que as crianças têm é a sabedoria em se concentrar apenas no objetivo do aprendizado, que é a troca comunicativa. Ou seja, elas aprendem para interagir, brincar e conversar e, por isso, não têm medo de errar.
Tive a felicidade de ver a minha filha começar a estudar numa turma em que as crianças vinham de vários países diferentes e nenhuma sabia o alemão, que é a língua da escola que ela frequenta. Depois de algumas semanas, em um aniversário, as crianças brincavam de bola e se comunicavam usando as poucas palavras que estavam na memória. A maioria delas não tinha ainda condições de reproduzir o que vinham ouvindo na escola, mas passavam por cima do medo de errar para brincarem juntos. A interação era o principal objetivo, o que foi alcançado. Após certo período de tempo, todas conversavam livremente em alemão e encontravam soluções para quando lhes faltava uma palavra ou expressão.
Se nós, adultos, tivéssemos uma postura mais bondosa com nós mesmos e acolhêssemos nossos erros em prol do benefício maior, que é a interação, o aprendizado seria mais fluido e mais feliz.
Assim, para ajustar a sua expectativa em relação ao tempo que irá levar para alcançar o nível de fluência desejado, considere:
- o número de horas em que se expõe à língua alvo;
- a qualidade do conteúdo linguístico a que está exposto (variedade de temas, autenticidade dos materiais e textos/áudios/vídeos que espelhem a vida real);
- a facilidade em aceitar os erros e colocar a comunicação acima da perfeição.
Por que treinar as quatro habilidades (hören, schreiben, lesen, sprechen)?
Adultos que buscam aprender uma nova língua, normalmente o fazem porque querem interagir em um novo país. Na vida adulta, a interação se dá tanto por meio da fala quanto da escrita, pois ainda que sua intenção seja apenas “falar” a língua do país que está inserido, em algum momento precisará ler e responder uma carta ou e-mail ou precisará ouvir uma mensagem numa secretária eletrônica ao ligar para consultórios médicos, por exemplo. Há vários contextos que o obrigam a dominar a língua em outros formatos. Assim, do ponto de vista da integração e da liberdade de entender e se fazer entender em outro país, faz sentido aprender as quatro habilidades: leitura (lesen), escrita (schreiben), audição (hören) e fala (sprechen).
Aprender as quatro habilidades é, ainda, uma forma de trazer o conteúdo para outros canais de aprendizado, o que favorece a memorização e a compreensão do que está sendo aprendido. A aquisição de novas palavras e sons, por exemplo, se dá de forma mais rápida se for possível ler e escrever aquela palavra.
Fica a dica 😉
Sugiro, então, aprender de forma completa e que abranja tudo o que você precisa para receber informação (ouvindo ou lendo) e passar informação (falando ou escrevendo). O treino de uma habilidade “reforça” o aprendizado da outra construindo, assim, um ciclo virtuoso 🙂
Observe se sua imersão na língua tem qualidade (de conteúdo) e quantidade (de tempo) suficientes para garantir um bom aproveitamento.
Por fim, busque respeitar o seu tempo para aprender e acolher todos os seus erros, pois eles são parte importante do seu processo de aprendizado.
Te desejo um aprendizado pleno e feliz!
Chris
P.S: Dúvidas sobre a língua alemã ou sobre como pode aprender de forma mais eficiente? Siga-me no @christegethoff e receba dicas!