Ao aprender uma nova língua, buscamos desenvolver as habilidades que vão nos permitir trocas comunicativas satisfatórias. Por exemplo, o desenvolvimento da leitura e a escritura irão te permitir ler e responder desde mensagens no WhatsApp até alguma carta ou e-mail. Por sua vez, a audição e a fala são habilidades imprescindíveis para a interação, seja por telefone ou face a face.
De todas as habilidades que comentei acima, a fala é a que costuma gerar mais ansiedade nos alunos, pois a boa performance vai além dos conhecimentos no idioma. Ela também “esbarra” em questões de autoconfiança, medo da exposição, medo do julgamento do outro, bloqueios, entre outros.
Melhor feito do que perfeito
Neste texto, vou passar algumas dicas que podem te ajudar a se soltar e a aproveitar melhor as oportunidades para treinar a fala. Lembre-se que a intenção não é falar perfeito, com pronúncia impecável, mas se fazer entender. Depois de superado o desafio de se libertar do medo da fala, aí sim, você terá tempo e energia para se concentrar em aprimorar a forma e o conteúdo.
Assim, sem querer chover no molhado, mas já o fazendo, o único jeito de se começar a trabalhar a fala é, claro, falando! Não se assuste, pois você pode começar aos poucos, passo a passo, de acordo com o que dá conta de fazer. No entanto, é muito importante tomar consciência da sua necessidade de treinar essa habilidade e, por isso, fazer uso das ferramentas à sua disposição.
Primeiros passos
Prepare-se de antemão para as suas aulas. Estude o que viu no último encontro e dê uma olhada no próximo conteúdo. Dessa forma, é possível aproveitar aquele sentimento de segurança de já ter a matéria em mente e usá-lo para reduzir a ansiedade. Muitas vezes, os alunos sabem muito mais do que demonstram, mas a insegurança constrói uma auto-imagem distorcida da realidade. Uma vez instalado, esse sentimento promove um ciclo vicioso: “não falo, porque tenho insegurança – tenho insegurança porque não falo”.
Se você conhece este ciclo, tome consciência e respire fundo. Este é um passo importante. O próximo é se fortalecer, por meio do próprio estudo da língua.
Abrindo a boca
Leia em voz alta. Ouça o som da sua própria voz. Arrisque ler na frente do espelho ou na frente de um membro da família. É como gosto de dizer: „die Übung macht den Meister“, ou seja, o exercício faz o mestre. É muito difícil treinar falar em alemão (ou em qualquer outra língua) falando apenas em português. Por isso, acostume-se com o som das palavras ditas por você na língua estrangeira. Treine, especificamente, as expressões que está aprendendo no curso e aproveite as oportunidades para usá-la em aula.
Se você já mora no país que fala a língua alvo, experimente usar qualquer oportunidade para falar o que já sabe. Ainda que seja pouco. Imagine que, ao invés de entrar na „Bäckerei“ e dizer “bom dia, obrigada e até logo” em inglês, use este momento para treinar as expressões que já aprendeu em alemão. Observe que este exercício pode ser colocado em prática desde as primeiras aulas, e você vai aumentando o seu repertório a medida em que vai aprendendo.
Não se preocupe com a opinião do falante nativo, pois a maioria das pessoas quer ajudar e se alegra ao ver outras pessoas se esforçando para falar a língua materna deles. Além disso, apesar de muitos lugares no mundo serem muito cosmopolitas, nem todas as pessoas se sentem confortáveis em falar inglês. Assim, se este for o seu caso, tente usar a língua local ainda que esteja apenas aprendendo e que tenha consciência de que está cometendo erros. Aliás, errar faz parte do processo e é esperado. Mais do que isso, errar traz a atenção para o que você está falando e ajuda no aprendizado.
Por outro lado…
Acho importante também mostrar opções do que se pode fazer caso você encontre interlocutores impacientes. Quando a outra pessoa não te deixa terminar de falar ou está só querendo reduzir o seu trabalho e tenta “completar” a sua fala, tenha algumas frases na ponta da língua. Exemplos:
– Entschuldigung. Langsam, bitte. Ich lerne noch.
(Com licença. Devagar, por favor. Estou aprendendo ainda.)
Preparo é tudo
Algo que pratiquei muito e indico para quem é tímido(a) como eu é preparar-se antes do momento em que vai precisar falar. Se é na aula, prepare-se lendo as expressões orais que irá precisar e treine-as antes de ir. Se é numa loja ou em algum atendimento, pense em quais expressões você irá possivelmente usar e repita-as mentalmente até ter um ponto de partida para começar o diálogo. Muitas vezes, começar a falar é a parte mais difícil. Assim, se tiver se preparado para o início da conversa, pode ser que consiga se soltar com mais tranquilidade para continuar falando.
Um outra forma de se preparar é ouvindo mais de uma vez os áudios das lições. Observe como os falantes interagem. Durante exercícios de audição (Hörverstehen), muitas vezes o foco do aluno(a) é apenas encontrar as respostas do enunciado do livro. Mas muito mais do que solucionar o exercício, esse tipo de atividade serve para te expor ao formato de como as pessoas conversam e, por isso, você pode e deve imitar as expressões que ouve.
Entre no ritmo
Uma ferramenta maravilhosa para ajudar a se soltar e falar é… cantar!! Sim, ouça música! Mas não só por ouvir. Use a música realmente como uma ferramenta de estudo. Escolha uma música que goste e cuja letra seja compatível com seu nível — imprima a letra e cante junto. Na dúvida, consulte sua professora. O mais importante neste momento é destravar aqueles sons diferentes ou que acha difíceis. Com o tempo, aprenda a tradução, até mesmo para aumentar seu vocabulário.
Uma variação interessante deste exercício é cantar sem se ouvir. Para isso, basta um fone de ouvido e uma música alta, assim, acompanhe a letra e cante até o final. Reproduzir as palavras em forma de música, sem julgar-se se está bom ou ruim, pode te ajudar a treinar a soltar a voz, antes de se preocupar com corrigir ou imitar o som exato que está ouvindo.
Cante também sem música: veja se sua voz acompanha o ritmo e se você consegue acompanhar todo o texto da música. Dizem que “quem canta, seus males espanta”, certo?
Entre para um curso de conversação
Depois de praticar bastante com as dicas acima (e mais outras que você pode criar), considere entrar para um curso de conversação. Neste tipo de curso, o foco é a fala livre e o treino de expressões úteis. O público alvo é justamente quem tem pouca oportunidade para praticar no dia-a-dia. Além do curso promover um momento para que você enfrente o seu medo de falar, pode ser um ótimo ambiente para conhecer pessoas novas, com as quais você poderia manter o hábito de conversar na língua que está aprendendo também fora da sala de aula.
Por último, mas não menos importante, gostaria de compartilhar um aprendizado que deu certo para mim. A meditação é um caminho para aprender a estar consciente, ou seja, presente em todos os momentos de sua vida. Use a presença para identificar e enfrentar o seu medo. Assim, quando estiver numa situação em que sabe que terá que falar e começar a sentir aquele frio na barriga, o nó na garganta, o coração acelerado… experimente pensar assim: “Ok, estou nervoso(a), estou com medo. Mas tudo bem. Vou falar mesmo assim.” A minha experiência é a de que falar, mesmo sentindo todos esses sintomas, é melhor do que desistir de tentar. Ainda que o nervosismo afete sua competência e você não consiga falar como sabe que pode, o ato de ter falado naquele momento irá te dar coragem para tentar de novo e de novo.
Espero, do fundo do meu coração, que essas dicas possam te ajudar a soltar o verbo e falar como você sempre quis.
Se este texto te ajudou de alguma forma, adoraria receber seu feedback. Caso queira compartilhar outras dicas que julgue útil, por favor, envie nos comentários.
Desejo que você tenha um aprendizado pleno e feliz.
Liebe Grüße,
Chris
P.S: Dúvidas sobre a língua alemã ou sobre como pode aprender de forma mais eficiente? Siga-me no @christegethoff e receba dicas!